24.8.07

A fragilidade da vida me espanta, falamos tanto em posso não voltar para casa esta noite, mas não é isso, é a velhice, é a maneira como quanto mais se ganha em vivência, em experiência, quando as velas do bolo aumentam, nos tornamos mais fracos, menos independentes. Não quero envelhecer, não por uma questão de rugas, elas são bem vindas na medida que contam o quanto vivi, não pelos cabelos brancos, pois os considero muito charmosos, mas pela fragilidade.
Existem lugares onde quanto mais velho se é, mais respeito se têm, aqui, bela piada não é mesmo?
Ainda me lembro, eu sentada, ainda tão pequena pequena na cama de minha avó, como ela era linda, sempre arrumada e perfumada, ainda sinto seu cheiro, era dela, sempre com os cabelos arrumados, e mesmo antes de dormir, usava salto, um dia ao se arrumar em frente ao espelho me disse, uma mulher deve estar sempre arrumada, devemos nos arrumar para nós mesmas.
Tenho certeza que de algum lugar lá em cima ela olha para mim e vê que sigo seus conselhos, gostaria de ter ouvido tantos mais, gostaria de ter sentado mais aos pés de minha avó, ouvido mais as histórias de sua vida tão vivida, tão lutada, mas a idade não me permitiu, nem o pouco tempo que pudemos passar juntas pela distância de nossas cidades.
E meu avô? Sentado comigo, me ensinado a colorir, a jogar buraco e fazer palavras cruzadas, quando ia me deitar ele se sentava ao meu lado na cama, me contava uma história antes de dormir, me deixava sentar em sua barriga, não era à toa que era o nosso vovô Bolão, durante o jornal da noite, um dos momentos que para mim eram mais entediantes ele me deixava pentear seus cabelos, ainda guardo as cartas de meus avós, letras caprichadas, cheias de muito carinho.
Que saudade eu sinto, tão grande e profunda, ainda os verei, um dia, hoje apenas a lembrança dos olhos de criança...

17.8.07


Pousada pensando numa ilha paradisíaca, sentada num galho sem saber se ainda posso voar, querendo partir e ao mesmo tempo sem saber se ainda pretendo voar, não sei se existe algo que me prende ou se realmente estou por querer, na verdade explodir seria muito mais opção, berrar surtar, talvez seja a febre afetando todos os sentidos, quero apenas deitar, olhar para o teto deixar de pensar.

Novas manias, tudo muito diferente e tão conhecido, o que é tudo isso que jurei nunca mais ver, sabemos bem como é isso esse nunca mais que nem vem nem vai, e pode parecer que falo de coisas que já se foram mas na verdade não é isso, algumas boas lembranças não despertam mais o interesse, talvez alguns dias uma remota e leve ponta de saudade, nada mais, o passado que bateu à porta e eu deixei entrar.

E é bom, é igual e ao mesmo tempo totalmente novo, mas não deixo de pensar no que já foi e temer que volte a ser, e fico confusa, distribuindo as matinais patadas desse serzinho aqui dentro que as vezes é bem rude ao sol da manhã, sem saber expressar, querendo apenas ficar ficar sozinha, um pouco em minha própria ilha.

Mas nem só disso meus pensamentos vivem, é momento de pensar no amanhã, saber fazer coisas que não sei, contar moedas e fazer as contas, é preciso, caminhar um pouco só, sem mais palpites ou interdições, sem mais ninguém, apenas as próprias pernas, e é muita coisa, tanta informação e são sonhos de futuro, que não sei por onde começar.

Ouvir um pouco o outro e não mais uma só voz, sentar do lado oposto do divã, e tem que ser agora, o relógio não pára, e é tempo de tudo novo.

Como sempre ainda confusa, como sempre sempre certa da incerteza do amanhã, a febre só fazendo tudo um pouco mais cansativo, ficar mais um pouco, deixar que tudo flua sem ter tempo de ver o sol se pôr...apenas mais um pouco da minha doce ilusão.

13.8.07

DepoisDeUmTempo


Tempo distante onde tantos novos instantes puderam me fazer pensar, nada mais como antes nem o velho nem o novo, tantas coisas nesse tempo... um medo, uma descoberta e nascimentos... tantas coisas para falar mas me parece que dá um branco, e nem sei por onde começar... uma saudade de coisas que já ficaram para trás, mas guardam ainda uma certa pontada de dor.

Começar do começa então? Mas onde começa? Não existe começo, são momentos, mas existe algo que me encanta todas as manhãs, foi o broto daquilo que desde o começo eu considerava morto, antes era só um galhinho, flores mortas num vaso bonito, mas, para minha surpresa, alguns brotos aparecem, não sei quando, e uma flor abriu, faz pouco tempo e todas as manhãs me sento, olho a linda orquídea branca que me encara docemente, inocente, uma flor que nasceu de coisas já mortas mas me desperta uma certa saudade, me faz pensar em uma história antiga que já deveria ser apenas uma lembrança em tons de sépia, mas ainda esta viva, colorida, ainda doída, mas a vida não para e não vivo de lembrança, o passado está guardado, ainda vivo pulsante nessa caixa dourada, um tanto enfeitada...

E embora não viva de passado o passado me bateu à porta trazendo novamente o que já estava esquecido, mas era novo, não faz sentido, mas é assim mesmo, e vou seguindo talvez agora tudo mude, é verdade que está menos corrido, menos vento e tempestades, não fazia parte dos planos, mas aconteceu e me sinto amada, sem saber se é amor, eu que vivo de paixão, estou vivendo assim, calma, pacífica, estranho...

Alguns amigos se foram, achei melhor assim, quero estar com quem está comigo, com aqueles que realmente gostam de mim, ficam os bons, os que sabem sorrir, belos amigos que amo e louvo tanto.

E nesse tempo que passei longe das palavras tanto me ocorreu, me doeu não deixar que nada fluísse, as palavras foram ficando cada vez mais caladas, e é tanto para dizer, que me perco e não sei mais como dizer, acho que perdi um pouco a mão das coisas, é preciso agora retomar, mas estou bem, as coisas voltam a fluir agora que tudo está novamente entrando no eixo.

Ainda cantando, dançando, vivendo cada dia. Nova, tudo novo, procurando e achando, nem tudo, mas é assim, vou seguindo pelos meus caminhos tortos, não poderia querer que fosse de outra forma, sempre há motivos para me fazer sorrir, mesmo quando quero chorar, vou indo caminhando e reluzindo, colhendo as flores no caminho, mais um dia, coisas novas para serem vividas, saudade das palavras que me faltaram o tempo que foi escasso.

mas voltei, voei um pouco alto e já de novo, mais uma vez volto aqui, voltarei novamente, todos os momentos em que for preciso, dizer algo que quer ser dito.