12.6.07

InspiraçãoChronica


Quanto tempo demora o tempo pra passar, quantos mundos é preciso para poder mudar? Vejo caras-pintadas nas ruas de São Paulo, maquiadas, cimentadas de tanto descaso e solidão, o tempo corre, ninguém espera, nada, passam por cima de corpos já mortos enrolados em cobertores rasgados, crianças perdidas fugidas, fingindo ser bandidas, quem as culpa? Eu não, nem poderia, maldita vida, sabemos nós, o que é ser assim? Antes fosse um belo país das maravilhas, mas não somos, não é, vai ser? Não vejo, quem sabe cética, deveria acreditar, quero mas, é, não, talvez a cada passo de dois gatos pingados em direção a algo melhor, não vale, não vai, o país não anda, não caminha, estagnado, tão belo, tão pobre, podre, tem jeito, remédio, remendo?

As notícias já não assustam, não são sórdidas ou tórridas o suficiente, vemos, comendo pipoca, pensando na roupa de amanhã, nada abala, nem corpos dilacerados na porta do carro, é apenas a cabeça balançando dizendo não, vamos parar com as rondas da meia noite de sopas e cobertores, distribuiremos pinga, cola, crack e todos os alucinógenos possíveis, não culpo, quem não bebe para esquecer, para enganar a fome ou o frio?

Remexendo lixos, revirando latas, cães, não, são homens, mulheres, crianças, brigando por um resto de comida podre jogada no dia de ontem, uma migalha um pão velho, qualquer coisa que se possa engolir, palavra gozada, engolir, engolimos os outros, seus rostos, seus restos, seu cheiro e aparência, passamos correndo, não vendo, será que não vemos mesmo? A verdade é que já faz parte da paisagem, tão belas árvores, construções arquitetônicas, belas esculturas cheias de pomba, e a criança, largada, esfarrapada, cheirando cola, que bela paisagem, tudo se encaixa, tão coloridas as ruas, esculturas se movem, correm fogem, roupas rasgadas, cheias de suas cores já sujas pelo tempo de uso, nada mais destoa aos nossos olhos já cansados.

É a lama que desce do morro, vai tomando a cidade, sujando sapatos novos, atrapalhando o trânsito, entre os carros, estamos atolando, nem vendo, andamos pela lama sem o sentir realmente, continuamos, não se pode parar, sentamos no bar e falamos, só, falamos, palavras que fazem pensar, pensar...tão distante do agir, o que se há de fazer? Por onde começar a limpeza das ruas, é o que todos querem? Ou continuaremos blindando carros, fugindo para longe, Terra do Nunca tão almejada, quem muda ou se muda? Se faz? Como?

Sei que o que digo não muda, nem esperaria que mudasse ou contaminasse qualquer outro, estamos já todos contaminados pela bela podridão da paisagem.

Um comentário:

itzar disse...

excelente dibujo¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡