Fiz porque quis, estava por querer estar e disse que não me arrependeria, não menti, não me arrependo, intenso, como jamais foi, do modo que eu queria, da maneira exata de me fazer querer mais, e mais e mais, para sempre, quantas vezes usei esta palavra, sempre, o sempre, sempre acaba, invariavelmente acaba, pois são dois, e sempre alguém pede água, é forte, é tudo, foi o mundo, me perdi no desconhecido, queria mais, uma parte ainda quer, embora, ainda doída, mas não voltaria, nem por impulso, nem por tudo o que foi e será e que sinto e quem sabe ainda sentirei, pois acredito em minhas palavras, foi verdadeiro e falso, tudo, nós nos nossos instantes, momentos perdidos no meio de tanta confusão, incoerente, inconsequente.
O coração passou apertado, travado, quase sem pulsar, e o dia acabou e é bom, voltar pra casa, sentar, poder chorar, abri um vinho, desce quente, aquece o coração partido, a alma, não poderia falar da alma, está perdida ainda, vagando por aí sem encontrar um caminho de volta pra cá, me sinto um vaso vazio, caminho sem rumo, sem querer chegar a lugar algum, perdida entre tudo que vi, confusa quanto a tudo que passou, não sei explicar, não sei se quero, acho que me sentiria pior do que já estou.
Queria que tivesse sido apenas sonho, mensagens do inconsciente de algo que desejo, algo que quero eternamente, não poderia lutar contra tantos anos, nem tenho forças, nem o faria, meu orgulho ferido não permitiria, um sonho, não quero, não queria acordar, a realidade dói demais, ingênua por pensar que essa história seria diferente da outra, já tinha sido, sabia o final, apostei fichas, dei tudo o que tinha, perdi, perdi tudo, o rumo, o prumo, perdi algo que preciso reencontrar o quanto antes, perdi o sorriso, o brilho no olhar, eu olho no espelho e busco, fecho os olhos, vejo dentro e não acho, quero de volta, mesmo sem tudo que o causou, quero só meu sorriso, quero só o brilho no olhar, o resto eu recupero, aos poucos, durante voos solitários que ainda hei de dar, a solidão me agrada.
Não entendo nada, penso no que foi e da maneira que se foi, e não entendo nada, como poderia ser, algo forte como foi, tenro, tenso, intenso, carnal, irreal, mágico, puro, sacana, como? Como acabar, como dizer adeus à tudo isso, me explica, não, não quero explicações, seria demais para mim, eu acho, mas também, já passei por tanto desde sempre, seria só mais um, mas não entendo, não trocaria o que foi por nada, mas essa sou eu, ou ao menos era, não sei como será quando tudo passar, tenho medo, medo de nunca mais poder acreditar.
Como eu pude ter sido tudo que dizias em teus olhos e palavras e não ser mais em poucas horas, como se joga isso para o alto, não importa o tempo, mas sim os sentimentos, por isso não sei mais se acredito em tuas doces palavras, entende? Como poderia? Sei, são anos, em tuas palavras, amor, talvez seja isso, amor, quero sentir isso, pois se for mais forte do que tudo o que vivi, o quero e o buscarei, todos os dias, amor, palavrinha boba, dita as vezes sem querer dizer nada, o que é isso que fez apagar o incêndio que queimava tudo, que apagou as lembranças de algo único, sim, foi único, me procurou a vida toda e quando me acha abre mão, eu não abriria, não abri, fui obrigada a deixar ir, deixaria de novo, mas não entendo, não faz sentido, é tudo tão contraditório...
Entre vírgulas, lágrimas, os olhos se fecham, o ar entra nos pulmões e não alimenta nada, é tudo vazio aqui dentro, não sinto nada, anestesiada, pela dor, nem dor eu sinto, é nada, é uma tristeza que invade levando tudo embora, não resta nada e quero resgatar tudo, tudo, o que era tudo mesmo? Quem eu era antes disso? Onde está a pessoas que eu admirava, pela força, fugiu, com medo, covarde, eu fugindo de mim mesma, de uma dor que eu própria causei, não deveria ter resistido ao primeiro dia, seria só aquilo e nunca mais, e não sentiria tudo isso.
No fundo, essa dor me faz bem, estou viva não é mesmo, não sentiria se não estivesse, a dor cura, passará eventualmente e serei capaz de digerir e voar, ainda não posso, nem quero, é preciso sentir, é preciso enfrentar, eu o farei, já se foram tantas vezes, tantas mágoas, mas o farei, novamente, um dia, por hoje, apenas as lágrimas, como companhia.
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