Ontem eu achava coisas que continuo achando hoje, mas me parece que hoje, na claridade do dias as coisas ficam mais claras e por não estarem mais entre as sombras da meia-noite me assustam mais, tem uma coisa engasgada aqui no peito, acho que é um grito, mas não tenho certeza, está crescendo, e consequentemente apertando o coração, que bate desesperado tentando fazer o sangue circular pelo resto do corpo, me parece cada vez mais difícil respirar, o ar me falta aos pulmões, sou só eu ou está apertado aqui?
Sim, sim, as paredes estão diminuindo, o quarto está cada vez menor, ouço o gato miando lá fora, mas não tenho certeza, ouço passos, mas estão só na minha cabeça. Um corvo pousou na minha janela, ele arranha o vidro com as garras, mas estou imóvel na cama, deveria deixá-lo entrar? Me parece amigável, seria bom ter um corvo como companhia hoje, conversaríamos a tarde toda e eu me esqueceria de tudo...
Esqueceria de que fui esquecida, acho que é isso que dói mais nesta manhã, queria me esquecer de mim por hoje também, me deixar deitar na cama e olhar para o teto, por horas a fio, até me esquecer de tudo, o tempo passaria brando, como um gatinho perdido escondido pelos cantos.
Hoje queria poder me aninhar em seus braços, deitar no seu colo como uma criança, fechar meus olhos e chorar, um choro mudo, meio sufocado, queria chorar até dormir...
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