5.6.07

EraUmaVez


Era uma vez uma linda garotinha, com sede de descobertas, curiosa que só ela, fuçava, olhava, sentia, corria e brincava, não tinha medo de nada, mas mesmo assim, as vezes, dormia com as luzes acesas, só para garantir que nenhum monstro a importunasse durante os sonhos, a garotinha foi crescendo, se transformando em mulher, ainda curiosa, ainda dormindo de luz acesa, mas agora, sabia mais, sabia do tempo e de todos os seus segredos, tinha sede de vida, mas tinha mais, tinha sonhos, cada vez maiores, nenhum obstáculo era grande demais, adorava os desafios se fosse fácil, ela logo se cansava.

Um dia, entre o ser menina e ser mulher, fugiu de casa, queria descobrir o mundo, ver pessoas, durante suas andanças, conheceu muita gente, as pessoas a intrigavam, era apaixonada por gente, dos mais diferentes tipos, e olha, querido leitor, existem muitos, incontáveis tipos, não apenas em seus estereótipos, mas também por dentro, tem também aqueles, aqueles muitos que são de um tipo e fingem ser de outro, esses nossa garotinha gostava muita, os chamava de lobos em pele de cordeiro, acontece que esta garota era muito, muito esperta e sempre via por trás das fantasias usadas, ela achava muito graça em tudo isso, pois essa gente que andava pela rua fantasiada não se dava conta da fantasia, incorporava os personagens, tinha dias que a bela menina se sentava no chão e ria tanto, mas tanto que as lágrimas rolavam de seus belos olhos puxados. Ela se contorcia de tanto rir, colocava as mãos na barriga e se dobrava sobre o próprio corpo.

Acontece que um dia, numa nova cidade, ela conheceu um desse cordeirinhos, e embora soubesse ser ele realmente um lobo, se deixou levar, e nesse meio tempo ela ficou confusa, pois os olhos do lobinho eram na verdade muito brilhantes e vivos, ela não sabia se acreditava no pobre lobinho, cheio de promessas ou no que seus olhos viam, então, pobre mocinha, ela mesmo colocou uma fantasia, e acreditou no lobinho, mentiu para si mesma, então, numa bela noite de lua cheia, o lobinho mostrou os dentes, colocou as garras para fora, a mocinha aterrorizada gritou, gemeu e chorou, mas correu, deixando para trás apenas a fantasia que usava para acreditar no lobo.

Ela ficou um tanto assustada, chorou bastante naquela noite, acuada numa caverna escura, no dia seguinte, continuou ali escondida, com medo, confusa, o lobo, apesar de ser lobo e dela saber do ser lobo do lobo, acreditou que ele pudesse mudar, por ela, e ser melhor, mas ele era um lobo, com natureza de lobo, embora seu espírito ansiasse por mudar, sua natureza falou mais forte, e ele tentou comer a garotinha.

Na manhã do terceiro dia, a garotinha acordou e tinha companhia, pássaros e borboletas, um urso, um veado, um gato, um coelho e muitos outros, ela não tinha mais medo, nem mesmo do lobinho, ela achava que tinha feito por ele tudo o que podia, até colocou sua vidas em suas mãos, sem se importar com o perigo que ela própria corria. Ela não queria mais ver o lobinho, mas não o desejava mal, apenas não ligava mais, não tinha medo, nem raiva, nem mágoa, sentia pelo lobo mau, por não saber ou não conseguir ser o que no fundo sempre quis.

A nossa mocinha pegou suas coisas, sua pequena malinha e continuou sua jornada, saltitando, cantando, querendo ainda o mundo descobrir.

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