5.7.07


Quero me lembrar de coisas que não conheci, sentir novamente as coisas que nunca senti na vida, reviver momentos nunca antes vividos, estranho dizer isto? Creio que vindo de mim, não, não é estranho, na verdade seria estranho se eu não dissesse essas palavras, quero algo novo todos os dias, quero me sentir nova a cada manhã, a rotina me cansa, me mata, consome, tritura, envenena, não é de mim entende?

Algumas rotinas me cabem, não me são estranhas, como entrar numa sala de aula todos os dias, ver os sorrisos, as piadas, as brigas, as travessuras que me deixam doida, entrar na sala, ligar o som, olhar nos olhos dos pequenos e dizer, ok, vamos lá, não, essa rotina não me atordoa, pelo contrário, me foca, me estrutura. É um momento na vida em que me centro, mais ou menos, afinal, não me considero mesmo muito tradicional em minhas aulas, mas acho que no espaço artístico, posso me dar a este pequeno luxo não é mesmo?

Enfim, voltando ao assunto, rotina, a rotina de fora não me cabe, não entre, não combina, nem encaixa, quero mais da vida, muito muito mais, acho que consigo, na medida do possível conviver com uma certa rotina, mais ou menos sem surtar, mas acho que vou acabar entrando em colapso se algo não me fizer tremer em breve.

Dá uma certa depressão, até que é gostoso, ficar em casa vendo filmes, eu sorrio, choro com finais melosos, e pequenas declarações de amor, pessoas andando de mãos dadas, beijos roubados, paixões que dão tudo errado para depois dar tudo certo, sim, as malditas comédias românticas, confesso, as adoro, tanto, que algumas já vi bem mais de três vezes, gosto porque fala de paixões impossíveis, pequenos contos de fada que parecem inacreditáveis, mas garanto, meu querido leitor, eles existem sim, é possível e é real. Mas em minha defesa, antes de continuar com minha tese sobre filmes melosos, amores possíveis (sim, é nome de filme), choro, rotina, calmaria e paixão, quero dizer que assisto também outros tipos mais refinados de cinema, de uma beleza sutil, que falam de mil outras coisas, principalmente a dura vida real, esses me fazem pensar um pouco mais e sonhar um pouco menos, então, definitivamente, não servem para esses momentos onde quero mais uma vez acreditar em paixão.

Voltando, mais uma vez de outro devaneio, e acredite, tenho muitos, paixão, ah, a paixão, essa coisa que começa num friozinho na barriga e vai crescendo e tomando conta, é a boca que seca, os lábios adormecem e parece que um abraço não cabe em si, é o querer entrar dentro do outro, de tão perto que se quer estar, olhar nos olhos e saber o que há lá dentro, mas veja bem, não é querer ser parte do outro ou achar que encontrou uma outra metade, pois acredito que somos já completos, o outro é apenas alguém para caminhar, lado a lado, enquanto tiver que durar, é o rir junto, chorar, berrar, gritar, quebrar copos, chorar, abraçar, fazer as pazes, ah a paixão, essa palavrinha tão pequena que me move, sim, me move, me alimenta, me toma, me leva, quero mais.

Acontece que em mais um momento ambíguo de minha vida, quero paixão, mas ao mesmo tempo, me dá uma certa preguiça de sair por aí olhando para os lados, vendo gente estranha, a grande verdade é que embora queira essa paixão, quero também que ela bata à minha porta, me dê um grande tapa na cara e diga, olha, estou aqui, não quero mais ter que procurar, sei que está por aqui, em algum lugar ao alcance das mãos, mas também não sei se pretendo esticar meu braço e tocá-la.

Acho que é isso, um tanto cansada dessa busca pelo que me alimenta, sei que eventualmente isso passa, e sairei da toca novamente, neste momento, não quero, embora queira, as vezes o telefone toca, eu atendo, mas sei que não sairei, saí esses dias, apenas para cumprir pequenas obrigações diárias, voltava para casa, correndo, tão rápido quanto podia, logo mais estarei longe, férias merecidas, naquele lugar só meu onde sempre me refugiei, alguns talvez saibam de onde falo, para os que não sabem, desculpem-me, não contarei, talvez atenda alguns telefonemas, procure algum lugar onde postar, talvez não.

Como a fênix, acho que algumas vezes preciso renascer, para isso, creio ser preciso estar só, pensar, criar, chorar, beber, dormir, talvez algo aconteça, tenho que contar um segredo, receberia alguém para um jantar, um bom vinho, música e água, lua e estrela, mas não contarei que sim, não convidarei ou talvez até convide entre linhas, ou não também, pois se bem me conheço e convidasse, acabaria esperando e não quero mais esperar por ninguém, já é tarde, e preciso me recolher.

Tem uma música, linda que diz assim, me dê uma razão para ficar aqui e eu darei meia-volta, talvez a tradução esteja um tanto esdrúxula, mas é da Tracy Chapman, chama Give Me One Reason, já devo ter ouvido um milhão de vezes, algumas chorando, outras sorrindo e mais um tanto cantando tão alto que nem podia ouvir. Mas acho que fala um pouco disso, de estar cansada, tão cansada de tudo, que se vai embora, mas uma razão, um pequeno motivo, pode me fazer voltar, ficar.

Mas neste momento só quero ir.

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