28.1.08


Dias como aquele parecem ser a pior coisa do mundo não? Hum, não, na verdade não.


São dias como aquele que me fazem pensar, que me deixam sentir, e onde mesmo não enxergando bem com os olhos, abrem-se os olhos d'alma, pude ver tanto e tão longe e pude perceber como tantas coisas mudaram ao longo do tempo, tantos sonhos desfeitos, tantas ilusões perdidas...


Quando eu era pequena, achava que meu pai era como um cavaleiro antigo, com armadura de prata, lutando contra todos os perigos, invencível, perfeito (acho que todos somos assim não é mesmo?), mas eu cresci e um dia meu pai me disse que ele era humano e como tal, sofria, adoecia, também queria carinho e atenção...


Quando eu era pequena, achava que meu irmão era ruim comigo, só porque eu era criança e chata, eu cresci, meu irmão não mudou, aprendi, que a gente fica criando desculpa para as coisas, para que as coisas doam menos no coração...


Quando eu era pequena, achava que quando crescesse minha irmã seria minha melhor amiga, que ela teria orgulho de mim e que me deixaria ser tia tempo integral, eu cresci, minha irmã, não está nem perto de ser colega, entendi que nem sempre família precisa ser exemplo de perfeição e que mesmo assim ainda é família, aprendi que não precisamos ser amados para amar...


Quando eu era pequena, achei que meus amigos seriam meus amigos para sempre, eu cresci, muitos se perderam no tempo, outros, nem era tanto assim, esqueci o nome de alguns, o rosto de outros, aprendi que as pessoas caminham ao nosso lado enquanto caminhamos o mesmo caminho e que fazer a curva não é a pior coisa do mundo, entendo que existem sim, amigos que serão eternos e nem por isso estou com eles todos os dias...


Quando eu era pequena, achava que só gente velha morria, achava que que aqueles e-mails bobocas que nos dizem para nunca esquecermos de dizer eu te amo porque pode ser a última vez são a mais pura verdade, gente jovem também vai embora cedo e o que mais dói é não ter dito adeus, é saber que aquela chopp que fica só na combinação, pode ter sido perdido para sempre...


Eu achava que poderia sempre fazer o que bem entendesse e que foda-se os outros, até que magoei um grande e querido amigo, parti o meu próprio coração, aprendi que não é foda-se, que algumas vezes devemos pensar um pouquinho antes de agir...


Eu já passei muito tempo achando muita coisa, e achei tanto e tanto que não vi o que era verdade, o que era mentira e nem mesmo as coisas que eu dizia para mim mesma pra tentar deixar tudo um pouco menos preto e branco. Eu achava que as pessoas me conheceriam apenas ouvindo minhas palavras, esqueci que são os olhos e os gestos o que mais importa...


Eu já me esqueci de tanta coisa e lembro de tantas outras, eu já me achei tão diferente, mas na essência sempre fui a mesma.


As vezes eu digo coisas e ajo de certa maneira para me esconder um pouco, as vezes eu quero tanto um colo para chorar, que só sei ficar sozinha para que não me percebam tão frágil, as vezes preciso de um gole de birita porque sou tímida demais para falar do sinto e quando tudo beira o insuportável me sento atrás desta tela de computador e deixo tudo sair assim mesmo, meio vomitado, eu tantas vezes escondo a insegurança de meus olhos atrás de óculos bem escuros, eu as vezes esqueço e falo em voz alta os meus sonhos, eu tantas vezes me calo achando que nem sou tão inteligente assim... falando desse jeito, até parece que sou a pessoa mais insegura do mundo, tem dias que sou, outros não é bem assim. São apenas dias, a vida é feita de momentos e a cada instante embora sendo eu mesma, sou cada dia um outro pedacinho de mim mesma.


Eu entendo hoje que nem todo mundo tem ou quer ter tempo para entender ou conhecer, quem sou eu para fazer tal pedido? Afinal de contas, é preciso querer muito para conhecer o outro, afinal, não somos todos feitos desses milhares de pedacinhos? Não basta apenas olhar para conhecer o outro, é preciso tempo e paciência e mesmo assim, seria preciso todo o tempo do mundo para conhecermos um outro ser humano por completo.


Tem dias que nem acho que estamos num caminho, acho que é assim, um marzão infinito, somos todos passageiros de barquinhos, remando, remando, tentando chegar em algum lugar, procurando um horizonte onde atracar, e tem vezes que o barquinho está assim, cheio de gente querida que ajuda a remar, entendo que só entra no barco quem quer, e que só o nosso desejo de um novo passageiro, de um novo companheiro de viagem não basta, para que alguém queira compartilhar um remo com você.


Hoje eu sei que meu barquinho não tem lugares marcados, que devemos preservar aqueles que estão do nosso lado, cuidar como se cuidássemos de nós mesmos e que sempre será bem vindo aquele que quiser fazer parte de tão distinta tripulação.


E eu to aqui falando esse montão de coisa e sinto que não disse tudo que tinha para dizer... é assim mesmo, nunca dizemos tudo, não por não querer, mas por não poder...






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